Tuesday, June 28, 2005

DAS OPÇÕES

...eu estou bem. Bom...dentro do possível, como calculas, que os tempos não estão de feição para quem quer que seja, ou pelo menos para uma grande maioria. Mas tu é que estás na mesma! Não nos víamos há quanto tempo? Vai para uns trinta anos, não?. É pá! isto passa tão rapidamente que até assusta; parece-me que foi ontem que me dizias: "Vou casar, Mário!" e eu estupefacto pois não te conhecia nenhuma mulher, aliás, se bem me lembro, namoraste uma ou duas miudas até essa altura e nada de significativo...E tu, com enorme à vontade, esclareceste que a tinhas conhecido por anúncio no jornal. Durante uns momentos nem sabia o que te havia de dizer, pois nunca me passou pela cabeça que um amigo de infância fosse casar "por procuração" como se dizia naquela altura. Natural era o pessoal conhecer-se ao vivo e a cores, gostarem-se, amarem-se ou apaixonarem-se (que a terminologia ficava ao gosto de cada um...) e juntarem os trapinhos. Mas tu resolveste o meu embaraço argumentado que não tinhas feitio para todo aquele "percurso" que envolvia namoro, conhecimento de familiares, noivado e por fim o casamento; foi ela que respondeu ao anúncio que colocaste no jornal, encontraram-se e... assunto resolvido ! E...tiveste filhos?, ela -Isaura, era assim que se chamava, não era?, está bem? o casamento perdura?. Ó pá, ainda bem que está tudo bem convosco! fico satisfeito por saber isso. Eu? Mas claro que me casei embora um pouco depois de ti; um ano após teres ido para a Alemanha. Sim, também tenho filhos; um de cada um dos quatro casamentos que já tive... Ora, tu sabes bem que eu nunca me casaria com uma mulher se não estivesse apaixonado por ela. Pois... também tenho de ir andando. Dá um beijo à ...Isaura, é isso. Não, não vale a pena saberes o nome da minha actual mulher; é que estamos em vias de nos divorciarmos, percebes?. Dá cá um abraço! havemos de nos ver por aí um dia destes...

Saturday, June 25, 2005

A DIFÍCIL ARTE DE...

Retrato-te;
de memória.
Mas embora saiba
a tua história
(não há nada que não caiba
neste pedaço de tela),
há algo que me escapa
pois que não há bela...
sem senão.
Por agora
dou a mão;
retracto-me.

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Nestes casos não há que teimar. O mais sensato é sair para a rua, agarrar esta ligeira e agradável brisa que ainda corre e andar, andar sem fixar qualquer rumo, não distrair os olhos com a cidade e as coisas e pessoas que tem dentro. E perseguir fantansiando, a perfeição...

Bertus

Tuesday, June 21, 2005

DAS HORAS IRREVERSÍVEIS

Sei
que o tempo se esgota
inexorável
que pouco ou nada importa
pois já não é como antes fora:
contável;
porque não se conta o que resta,
antes se esquece.
Quem dera
não saber o que hoje sei,
ter doseado a impaciência
seria sinal mais que evidente
de alguma inteligência;
teria a necessidade urgente
de os dias perlongar-
pelo menos os mais belos,
não os deixar escapar
quem sabe,
agarrá-los p´los cabelos.

Começar do princípio
sem ter em vista o fim
acontece a tantos...
mas porquê a mim ?

Bertus

Saturday, June 18, 2005

OS EXTREMOS NÃO SE TOCAM

Este já não é um país de brandos costumes e onde nada acontece, ao contrário do que alguns saudosistas querem fazer crer aos mais desinteressados da coisa política ou aos menos informados socialmente.
Hoje, a extrema direita (apodo dado pela própria comunicação social aos manifestantes), pode, democráticamente(?!) entenda-se, organizar uma manifestação de protesto (?!) derivada do famigerado "arrastão" ocorrido há poucos dias na praia de Carcavelos.
Se em Carcavelos os protagonistas do acidente -entre "arrastadores" e "arrastados", não atingiram o milhar de pessoas e se se estima em cerca de trezentos a quinhentos o número de "ofendidos e lesados" na manif de Lisboa, a que conclusões poderemos chegar?
Que todos os que se encontravam em Carcavelos a banhos, seriam conotados com a extrema direita portuguesa?. Que a "onda do arrastão" representaria a esquerda marxista lusitana?. No parlamento, a discussão sobre o assunto entre as alas partidárias mais á esquerda e à direita, estiveram a um curto passo de branquearem este cenário.
Os extremos não se tocam; palavreiam-se.
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Desejaria eu -há imensos anos que o desejo , que os dirigentes políticos que elegemos (tenham a cor partidária que tiverem) , não me tentem confundir com debates sobre o sexo dos anjos e dos demónios, que tratem com humanismo e rigor a integração dos que nos procuram para uma vida melhor e me deixem ir à praia descansado. Para isso são pagos e não tão mal como apregoam.

Wednesday, June 15, 2005

DAS VIAGENS SONHADAS

Parti
e nem imaginava que me ia.
cheguei
e senti que ficara no passado.
regressei
de onde nunca tinha estado.
..............
É o que acontece quando se dorme num aeroporto.

Tuesday, June 14, 2005

DA PAIXÃO na BLOGSFERA

Agora que vou tendo um pouco mais de tempo para ir lendo outros blogs, descubro neste imenso universo virtual que, também aqui, os portugueses não abrem mão dos seus pergaminhos.
Os "oito ou oitenta" passeiam-se de mãos dadas pela blogsfera, como qualquer casal recente de apaixonados e beijam-se naturalmente em público, para gáudio dos mirones e enervamento dos mais conservadores.
O texto mais modesto, trajado bastas vezes de "erro crasso", abraça-se voluptuosa e demoradamente à escrita escorreita e criativa, vestida por alguma pompa e circunstância.
O assédio, que por vezes ganha contornos de tentativa de violação, às letras de reconhecidas figuras mediáticas que por aqui assentam arraiais, é consubstanciado por centenas de comentários amorosos, na esperança de uma palavra pública da amada, prémio paradisíaco para o felizardo.
No exercício da escrita apaixonada vale tudo; da provocação ao ódio de estimação, passando pelo insuspeito(?!) "gosto tanto de ti querida!". Ou no rol de visitantes que se conquistam palmo-a-palmo para as casas mais badaladas na espera urgente da visita de um repórter de uma revista do "coração".
No exercício da escrita apaixonada na blogsfera, há quem escreva por amor às letras; quem escreva da "boca para fora" ou com "o coração nas mãos". Ou se refugie na contenção, na ironia ou no envio de uma palavra de conforto.
O exercício da escrita apaixonada na blogsfera, reflecte -como não podia deixar de ser, o que "escrevemos" no real.

Friday, June 10, 2005

DECLARAÇÃO

Declaro
para todo e qualquer efeito
que apenas tu
me fazes perder o jeito;
que o claro-azul
de teu olhar transparente
me deixa nervoso
e em dúvida pungente;
que confundo o riso
com choro desalmado
e que perco o siso
no teu beijo salgado;
que me afogo no fogo
do teu corpo perfeito.
Mais declaro sem logro
que me consomes o peito.
Assinado pelo meu punho
aos dez de Junho...

Bertus.

Tuesday, June 07, 2005

O CÃO AMARELO

Devem ser umas nove e meia quando chego à Sereia. Mar chão, céu azul sem mácula a confundir-se com a água no horizonte, uma brisa muito ténue e saborosa apesar da temperatura já ter ultrapassado um bom pedaço os vinte graus e o silêncio apenas quebrado pelo cantar das ondas mansas a morrerem na areia. Se há momentos quase perfeitos de sintonia com os elementos naturais, este é decerto um deles.
Durante uns minutos corro ao longo da praia, pés chapinhando a água fresca e revigorante, despojado do meu outro eu, deixado na cidade de betão, inundada de veículos estridentes, de gente que sonha realidades que nunca mais se cumprem, de gente que nem sequer tem sonhos e de gente de pesadelo que não permite que se sonhe.
Depois um cão, saido do nada, começou a acompanhar-me a corrida. Era um cão grande e amarelado, talvez já tivesse sido castanho mas o sol e a água salgada ao fim de uma ou duas épocas, dão aos animais esta côr estranha e pouco atraente.
Deixei de estar sózinho; o cão ladra mas não entendo o que pretende. Parei de correr. Começou a chegar gente que gesticula, grita, joga à bola, lê jornais e eu, sitiado, em pouco tempo serei apenas mais um entre tantos. O meu encontro com a natureza tem os minutos contados. Visto a t´shirt e afasto-me. O cão amarelo fica; provavelmente a fazer as honras da praia aos que pretendam ensaiar uma corridinha, pés chapinhando a água fresca e revigorante, despojados dos seus outros eus, deixados na cidade de...

Saturday, June 04, 2005

DUAS ou TRÊS COISAS SOBRE...

O blog "Porquinho da India" a partir de agora passa a ter um novo formato; embora o visual se mantenha sem alteração (se o despojamento "gráfico" antes já era imagem de marca, nos tempos que correm cada vez mais se impõe a contenção...), o "miolo" na forma da palavra escrita, leva uma volta de trezentos e sessenta e cinco graus.
Da brincadeira pegada, do gozo desbragado ou da gargalhada fácil resta a saudade ou um sorriso de quando em vez, que o escriba não é de pau. Agora a coisa é à séria, garanto-vos.
Os temas, esses, obedecerão a um critério muito pessoal de quem edita este sítio e sem a colaboração de personagens fictícias ou reais; tão depressa posso escrever um conto infantil para adultos, para logo a seguir deixar um pensamento de José Sócrates ou um poema em homenagem à verticalidade do homem íntegro e político democrata que é Alberto João Jardim. Ou uma dissertação sobre este universo bloguista em que por aqui navegamos...
Ao invés do modelo anterior e no que concerne ao diálogo comentarista também há mudança; nesta "nova série" desaparece a resposta ao comentário, mantendo-se no entanto a visita aos blogs amigos e a outros (que não sendo inimigos) por manifesta falta de tempo, antes não eram visitados... Também a edição de posts deixa de ter data certa; depende da disponibilidade criativa e temporal .
Mais reafirmo que este blog não tem qualquer tipo de apoios político-partidários, subsídios estatais ou privados e não é distribuido gratuitamente à saida do metropolitano.