Monday, July 11, 2005

PAUSA

Depois de um ano e meio & mais uns pozes a postar e a comentar o Porquinho da India vai fazer umas férias grandes, daquelas mesmo à séria! E o programa é tão aliciante (pela aventura e pelo imprevisto) que não poderei garantir uma data para o regresso; de tal modo que tanto poderei estar fora três meses como...um ano.

A "mala" já está preparada (cartas geográficas, bússola e um pneu sobressalente da...bicicleta) e amanhã é a partida logo pela fresquinha. Espero que as minhas amigas e os meus amigos com quem ao longo de todo este tempo tive o enorme prazer de conviver, fiquem bem.

Beijinhos e abraços sinceros do

Bertus.

Friday, July 08, 2005

DAS ARTES INQUIETANTES

Tracei
um gesto amplo
que se pretendia libertário,
comunal.
sem tom algum
(imaginei...)
de pessoal ou sectário.

Afinal
as opiniões divergem;
onde pensei
ter criado alguma luz
riscaram-me a tela
com uma enorme cruz.

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Lá terei de voltar ao "assunto" novamente; por hoje arrumam-se os pincéis e as tintas, que o fim de semana está à porta.

Bertus

Monday, July 04, 2005

DA DOR

é verdade que foi tudo muito rápido
quando o olhei já estava sobre mim
nem tempo tive para um gesto defensivo.

também de pouco ou nada me valeria
que apenas uma mão a defender o rosto
vale por isso mesmo: tão só instinto.

depois o embate: mastodôntico e delicerante
que me projectou a distância indefinida pelo ar
embebido em vidros sangue e agonias muitas.

do contacto com o solo discorrerão as testemunhas
(que nestes casos são sempre de pareceres inquestionaveis)
pois que da minha memória não tenho relato.

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Hoje abri os olhos. Uma cara de que mal distingo os traços, debruça-se sobre a cama e pergunta-me numa voz que não me parece pertencer àquele rosto, se estou bem. Só pode estar a desfrutar-me; pois se nem sinto o corpo! Estou reduzido a uma cabeça que suponho prestes a rebentar, sem poder articular palavra e com as narinas impregnadas a cheiro de hospital antigo.
Hoje á noite, hei-de arranjar maneira de iludir a vigilância e sair . À procura do que falta de mim.

Friday, July 01, 2005

DOS ENCONTROS

Futuro-te; que um destes dias nos vamos encontrar. O sítio e a hora não são muito importantes nesse momento exacto (esses dois elementos serão registados depois, para as memórias dos afectos que por enquanto a prioridade é a do extase); o que conta é que nos vamos olhar como se fôra a primeira vez -pois se por um lado será a primeira vez que nos veremos, por outro, o encontro de dois amantes não é um acto original.

Provavelmente diremos coisas muito simples tais como «Chegaste aqui há muito tempo?» ou «Era fatal este nosso encontro». Talvez, para não dramatizar demasiado, um de nós emendará esta última frase para «Estava escrito este nosso encontro», pois que o amor não deve ser degustado em discurso grandiloquente ou teatral; ganhará em compostura mas perderá no arroubo da paixão mais adiante.

E daremos então lugar à linguagem gestual; aquela que os enamorados melhor dominam e mais cultivam. Das mãos entrelaçadas ao gesto meigo do afago no rosto, o abraço é o passo seguinte. Depois, as bocas estarão cada vez mais próximas e os lábios pedem que se beijem. Sem delongas, esqueceremos num ápice as reformas dos ministros, as greves dos professores, o aumento do IVA. Amanhã será outro dia; futuro-te.

Tuesday, June 28, 2005

DAS OPÇÕES

...eu estou bem. Bom...dentro do possível, como calculas, que os tempos não estão de feição para quem quer que seja, ou pelo menos para uma grande maioria. Mas tu é que estás na mesma! Não nos víamos há quanto tempo? Vai para uns trinta anos, não?. É pá! isto passa tão rapidamente que até assusta; parece-me que foi ontem que me dizias: "Vou casar, Mário!" e eu estupefacto pois não te conhecia nenhuma mulher, aliás, se bem me lembro, namoraste uma ou duas miudas até essa altura e nada de significativo...E tu, com enorme à vontade, esclareceste que a tinhas conhecido por anúncio no jornal. Durante uns momentos nem sabia o que te havia de dizer, pois nunca me passou pela cabeça que um amigo de infância fosse casar "por procuração" como se dizia naquela altura. Natural era o pessoal conhecer-se ao vivo e a cores, gostarem-se, amarem-se ou apaixonarem-se (que a terminologia ficava ao gosto de cada um...) e juntarem os trapinhos. Mas tu resolveste o meu embaraço argumentado que não tinhas feitio para todo aquele "percurso" que envolvia namoro, conhecimento de familiares, noivado e por fim o casamento; foi ela que respondeu ao anúncio que colocaste no jornal, encontraram-se e... assunto resolvido ! E...tiveste filhos?, ela -Isaura, era assim que se chamava, não era?, está bem? o casamento perdura?. Ó pá, ainda bem que está tudo bem convosco! fico satisfeito por saber isso. Eu? Mas claro que me casei embora um pouco depois de ti; um ano após teres ido para a Alemanha. Sim, também tenho filhos; um de cada um dos quatro casamentos que já tive... Ora, tu sabes bem que eu nunca me casaria com uma mulher se não estivesse apaixonado por ela. Pois... também tenho de ir andando. Dá um beijo à ...Isaura, é isso. Não, não vale a pena saberes o nome da minha actual mulher; é que estamos em vias de nos divorciarmos, percebes?. Dá cá um abraço! havemos de nos ver por aí um dia destes...

Saturday, June 25, 2005

A DIFÍCIL ARTE DE...

Retrato-te;
de memória.
Mas embora saiba
a tua história
(não há nada que não caiba
neste pedaço de tela),
há algo que me escapa
pois que não há bela...
sem senão.
Por agora
dou a mão;
retracto-me.

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Nestes casos não há que teimar. O mais sensato é sair para a rua, agarrar esta ligeira e agradável brisa que ainda corre e andar, andar sem fixar qualquer rumo, não distrair os olhos com a cidade e as coisas e pessoas que tem dentro. E perseguir fantansiando, a perfeição...

Bertus

Tuesday, June 21, 2005

DAS HORAS IRREVERSÍVEIS

Sei
que o tempo se esgota
inexorável
que pouco ou nada importa
pois já não é como antes fora:
contável;
porque não se conta o que resta,
antes se esquece.
Quem dera
não saber o que hoje sei,
ter doseado a impaciência
seria sinal mais que evidente
de alguma inteligência;
teria a necessidade urgente
de os dias perlongar-
pelo menos os mais belos,
não os deixar escapar
quem sabe,
agarrá-los p´los cabelos.

Começar do princípio
sem ter em vista o fim
acontece a tantos...
mas porquê a mim ?

Bertus