Monday, July 04, 2005

DA DOR

é verdade que foi tudo muito rápido
quando o olhei já estava sobre mim
nem tempo tive para um gesto defensivo.

também de pouco ou nada me valeria
que apenas uma mão a defender o rosto
vale por isso mesmo: tão só instinto.

depois o embate: mastodôntico e delicerante
que me projectou a distância indefinida pelo ar
embebido em vidros sangue e agonias muitas.

do contacto com o solo discorrerão as testemunhas
(que nestes casos são sempre de pareceres inquestionaveis)
pois que da minha memória não tenho relato.

....................................................................

Hoje abri os olhos. Uma cara de que mal distingo os traços, debruça-se sobre a cama e pergunta-me numa voz que não me parece pertencer àquele rosto, se estou bem. Só pode estar a desfrutar-me; pois se nem sinto o corpo! Estou reduzido a uma cabeça que suponho prestes a rebentar, sem poder articular palavra e com as narinas impregnadas a cheiro de hospital antigo.
Hoje á noite, hei-de arranjar maneira de iludir a vigilância e sair . À procura do que falta de mim.

25 Comments:

Blogger isa xana said...

vê lá se não fazes nenhuma loucura=p depois ainda te internam como pessoa perigosa=p

beijitos

6:44 PM  
Blogger Fátima Santos said...

Xiça que este post e sus coments às dez e vinte de uma manhã de sol... Pois amigo Bertus soubera eu onde poisava esse velho hospício (credo!!! hospital!) e estaria pegando sua mão (escafedeu as ambas?! pobrezito!!) E lhe digo que já nem me assusto com sus desatres como dessas outras vezes em que os anunciou e fiquei pensando-o... verdadeiramente desfeito(buurraaaaa!!!rsss). Agora sei que é prosa... E no acrescento que sempre faz depois do traço rectilíneo (Manel és um amor!)eu poderia inda ver algo de verdade mas sei que tudo em si é literatura... diferente, original...não sei se acrescente da boa :) Fique bem... depressa

2:33 AM  
Blogger Fátima Santos said...

ah! fui neste instante ali ao quintal e...ele há coisas...eu falando em literatura e arealidade emperrando-me averdade que eu cria crer...no meio do quintal acabado de cair (ainda lhe ouvi o plaff) um cotovelo com metade do antebraço. e muito pelo aloirado. tenho-o aqui ao lado. Como quer que lho mande? em vinagre pelo correio? :):):)

2:37 AM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Poderia contar-te dos embates em que não há sangue... em que a dor te atravessa o corpo de cima abaixo e de um lado ao outro e é tão potente que pensas nisso mesmo em apenas milésimos de segundos... Poderia contar-te que voar parece isso mesmo, apenas voar... Que tudo é negro e depois claridade...
Que nem sabes o que sucedeu porque no momento do embate foi como se o passado jamais tivesse existido ... Que acham que te levantas e tu nem sabes se estás ali realmente...


... mas por qualquer estranha coincidência... está escrito o depois... prestes a ser publicado.
Caramba, coincidência do raio...


----
eheheheh... pelo aloirado... é no que dá qd comentaram poucos ainda, lê-se umas coisas... ;)

Ah! E pour moi qq coisa é bem melhor que a desgraceira do telejornal... logo vamos lá ver... hummmm... hum... não exageremos... hummm... entre os infiltrados e o CSI... não tá mal... é um bom ranking :)

6:25 AM  
Blogger mjm said...

"Dador"- pensei logo em sangue
E 'esfaleci', pois então
O que vale é c'a Seila
Explicou essa coisa da mão

Não deixa de não peocupar
Saber-te assim combalido
Como é que hás-de teclar
Sem te sentires 'prejudicado'...

Difícil é seres capaz
De manter o bom humor
Lição dada pelo rapaz
Maneta, mas com furor

7:56 AM  
Blogger mjm said...

Ficou aqui constactado
Qu'este virus é bem forte
Uma vez experimentado
Só o larga quem não pode

Pensei até registar
A sociedade em patente
PONETAS DA QUADRATURA
Antes que nos caia um dente

Cresce a prole a versejar
Gente assim é cá das minhas
Passar o Verão a rimar
Miminhos em comm-cadrinhas

8:57 AM  
Blogger VdeAlmeida said...

Oxalá o encontres depressa que não me anda a apetecer ir almoçar com uma cabeça sem dono
Abraço, Amigo :-)

10:05 AM  
Blogger sotavento said...

Ena ena mais quadrinhas
E feitas com tanta graça
Estas não são cá das minhas
Pois riem-se da desgraça

Pois riem-se da desgraça
De um pobre acidentado
Que só pretende ir à caça
Mas que está acorrentado

Mas que está acorrentado
À cama de um hospital
Sente a falta dum bocado
Que perdeu num tal quintal

:)

11:08 AM  
Blogger Unknown said...

Porquito, só hoje abriste os olhos?
Está tudo explicado.

11:12 AM  
Blogger JPD said...

Acho o teu texto magnífico. Não conheço ninguém que, vítima de um acidente e uma vez conduzida ao hospital, não tenha pensado, não tenha desejado, não tenha tentado abandonar a unidade para partir à procura de qualquer coisa -- claro que será sempre uma parte dela -- por várias razões: provar a si mesma a revitalização; provar a si mesma o adiar de um agravamento de saúde, provar, provar sempre...desejo irreprimível.
Gostei muito.
Um grande abraço, Alberto.

1:50 PM  
Blogger lique said...

Porquinho, meu querido amigo
Eu nem sei bem que te diga
Estou solidária contigo
Isso é que foi uma espiga!

Ir pelo ar dessa maneira
Conjunto de pele e aço
É claro que a brincadeira
Tinha que te levar um braço

Valeu-te a Providência
Que às vezes anda por cá
Que logo por coincidência
Foi avisar a Seilá...

Põe-te em boa condição
E vê se te deixas de tretas
Precisamos este Verão
De ti aqui para os Ponetas!

:)) Beijos

1:57 PM  
Blogger agua_quente said...

Olha, só te digo que se estás reduzido à cabeça já não é mau! :)
Quantos andam por aí que a perderam algures e ainda não a encontraram? Cá para mim é mais grave.
Agora, pelo menos, já sabes onde está o braço! :))
Beijos

2:34 PM  
Blogger mjm said...

LOL LOL LOL LOL
LOL LOL LOL LOL
Já cá canta, sem formol
Outra cadrista prò rol

(Maravilha!)

2:55 PM  
Blogger Fátima Santos said...

ponetas da quadratura
que quererá tal dizer
anda tudo a versejar
e o Bertus a sofrer

Se fossem mais solidários
mais amigos do alheio
resgatavam-lhe a cabeça
de cima do travesseiro

depois vinham por cá
em busca do pedacinho
corriam por Portugal
procurando algum ossinho

quando tivessem inteiro
o Bertus todo alinhado
levavam-no a uma tasca
c'as quadras cantavam fado

3:33 PM  
Blogger Azul said...

Mais uma vez, agradeço pela visita que me fez, e pelo comentário que deixou. O texto "O poder do silêncio" é apenas uma parte de um ensaio maior que escrevi a propósito de violência doméstica. Parti de um caso clínico de uma mulher a quem chamei Alice. Aos poucos, vou publicá-lo na íntegra. Espero que continue a gostar do que escrevo.
Quanto ao seu testo de hoje "Da Dor", fez-me lembrar um livro de Thomas Mann "As cabeças trocadas", pela parte final.~
Gostei muito de o ler. Apareça sempre. Eu voltarei em breve. Um abraço. Azul.

3:57 PM  
Blogger Azul said...

Melhor seria se tivesse dito Texto e não testo. Aqui fica a emenda. Obrigada. Azul

3:58 PM  
Blogger Lyra said...

pá pareceu-me...demasiado sério este post. pois pareceu.
que te aches, pois aquilo que ainda tens de ti é muito bonito (e agora um beijo daqueles muitaaaaaaaaaaaa (sim com A ) barulhentos.

6:24 PM  
Blogger anapaula said...

Rico,

Achei a tua escrita muito realista (vivenciada)... se precisares de ajuda para fugir é só dizeres...
Afinal os amigos (e as amigas) são para essas coisitas...

Beijinhos

4:18 AM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Ah! E eu há vinte anos a pensar que todos sentíamos igual...

Afinal cada um
com forma diferente
de encarar
o embate


Mas o mastodôntico está muito bem visto... É tão poderoso que chega a ser impossível...


PS:
deste cabo de muita coisa?
Eu rebentei-lhe com o vidro da frente, o espelho retrovisor e uns faróis... além de lhe amachucar a carrinha...
Ele foi um querido pq apesar de a culpa ser minha e me ter atravessado à maluca à frente de dele (que vinha certamente a uns 80/100 à hora dentro da cidade), não me pediu para pagar nada e até me ofereceu uns bombons... que estávamos no Natal ;) E ainda me visitou!!!

11:23 AM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

ChiçA!

(já bastou os bombons estarem estragados... segundo a minha família... LOLOLOL)

11:56 AM  
Blogger Lyra said...

bom dia vizinho :)

4:12 AM  
Blogger mar revolto said...

Vais-te encontrar e vais-me encontrar ;)
Beijo gordo

7:36 AM  
Blogger Lyra said...

olhe amiguito ando mais ou menos. encalorada claro está. prefiro o inverno que estes calores dão cabo do cachaço da malta. fico irritadiça de tanto calor e insuportavel. se me aturarem este verão aturam tudo. ah! roubei-te a expressão e usei-a no ultimo post. sei que tambem a roubas-te a alguem (palavra demasiado forte mas não me apetece pôr aspas) que não sei quem é. Ai não esta tanto calor como aqui acredita. argh

7:37 AM  
Blogger Raquel Vasconcelos said...

Oh pra mim! Fui dar sangue! pareço os putos completamente em frenéticos! Com tanta coisa pelo menos já está reposto parte do que na altura "gamei" a alguém ;)

YESSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSSS

9:48 AM  
Blogger ccc said...

Depois conta-me o como chegaste lá. beijo gd

3:04 PM  

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